O brasileiríssimo açaí está mais internacional do que nunca. O fruto típico da palmeira amazônica, queridinho do País inteiro, tem se tornado cada vez mais benquisto em quiosques dos Estados Unidos e Europa.
Muito embora o produto seja tradicional na região Norte do Brasil, ele vem se popularizando em todos os lugares do mundo, sendo utilizado na preparação de sucos, doces, sorvetes e até mesmo vinhos e licores.
O açaí desempenha um papel importante na economia região amazônica. Não é exagerado enunciar que boa parte da população consome o fruto habitualmente, como sobremesa e, também, em pratos salgados. Estranho? Nem um pouco. Pois a carne de charque com açaí é uma iguaria essencial nas mesas dos estados do Norte.
O produto, tido como “embaixador da Amazônia”, uma vez que é reconhecidamente típico da região, não se limita às propriedades alimentícias, sendo aproveitado, ainda, pela indústria de fármacos e cosméticos. A escalada na procurada pelo fruto cresce a cada dia.
O estado que encabeça a produção do item é o Pará, com mais de 90% das exportações do Brasil para os demais países do globo. Para se ter uma ideia, enquanto no ano de 2011 cerca de quarenta e uma toneladas do produto foram exportadas, ano passado (2020) a safra de exportação subiu para quase seis mil toneladas.
Não só. Entre 2019 e 2020, em um intervalo de apenas um ano, o crescimento da saída do fruto foi de 51%. No ano de 2017, pela primeira vez, a exportação chegou à casa dos dois milhões e setecentos mil.
Quando se trata do comércio brasileiro, não é diferente. De acordo com o coordenador da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (“Sedap”), Geraldo Tavares, após coleta de dados dos anos de 2010 a 2019, percebeu-se que o abastecimento interno também sofreu um incremento. De pouco mais de 756 milhões de toneladas, escalou para 1,3 milhão. A área plantada, no mesmo lapso temporal, aumentou de 77,6 mil para 188 mil hectares.
A intensificação da procura do produto, entretanto, tem causado infortúnio para os apreciadores locais, que sofrem com a falta do fruto e aumento de preço. Como se não bastasse, a entressafra está mais severa nos últimos anos (período entre a pós-colheita e o novo plantio), ocorrendo uma diminuição de quase 70% da produção. Mesmo com a alta na demanda acima mencionada, estamos vivendo uma “crise do açaí”.
A crise do açaí, porém, é só nacional e não ultrapassa as fronteiras do País. Reinaldo Mesquita, Presidente do Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados do Estado do Pará (“Sindfrutas”), já enunciou que a entressafra prejudica apenas o mercado interno.
O abastecimento internacional, entretanto, continua garantido, uma vez que a exportação, em suma, ocorre com o item congelado, realizado pelas indústrias, que seguem com estoque para tanto. Mesquita salienta que a entressafra e a alta procura entre o mercado interno e externo são coisas completamente diferentes.
Ele explica: a safra compreende os meses de agosto a dezembro, quando as chuvas tomam conta do Norte do País. Nos meses subsequentes, inicia-se a entressafra e, por via de consequência, surgem os contratempos no que tange ao abastecimento.
A exportação segue normal pois as indústrias possuem câmaras gigantes de refrigeração, o que permite que produzam em quatro meses o que será comercializado o ano inteiro.
O mercado nacional – regional principalmente – é carente desta infraestrutura, dado que depende grandemente dos “batedores de açaí”, indivíduos assim batizados em referência ao exercício de bater o fruto no equipamento que gera a polpa. Os profissionais, em resumo, realizam o processamento do fruto para venda em menores quantidades.
Nota-se que o aumento da popularidade do açaí causou impacto na economia local como um todo, repercutindo, inclusive, no labor dos ribeirinhos, a base da pirâmide. O Presidente do Sindfrutas evidencia que, enquanto há quinze anos o produtor regional priorizava cortar a árvore do açaí para retirar o palmito, hoje, com o valor de mercado do açaí, percebe que é mais rentável – além de benéfico para o meio ambiente – manter o tronco íntegro para colher e comercializar o fruto.
Um parêntese: você sabia que a árvore do palmito é a mesma do açaí? O açaizeiro é uma palmeira que produz palmito de qualidade comparável ao da espécie juçara. Vivendo e aprendendo…
Repara-se, portanto, a relevância que o item detém para o progresso e geração de renda na região do Norte do País do Pau-Brasil (e agora do açaí), que iniciou a exportação de maneira artesã e, agora, domina a venda no mercado mundial através de indústrias especializadas na comercialização da fruta.
Contudo, é importante ressaltar que o desenvolvimento da economia local, para além do aumento na quantidade do insumo para exportação, necessita de amparo por parte do Poder Público (com oferta de crédito aos investidores e trabalhadores das regiões produtoras), além de políticas públicas em prol do setor para a melhorias das condições sociais dos trabalhadores locais, os quais são os mais impactados pela atividade e, ao mesmo tempo, os que menos se beneficiam com o comércio.
Para se ter uma ideia, o Governo do Pará possui o Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Açaí no Estado do Pará (“Pro-Açaí”). O Pro-Açaí coordena articulações do instituto com outros, como, por exemplo, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (“Embrapa”).
Os cientistas se uniram para fortalecer a qualidade do fruto, pesquisando os melhores territórios e condições de cultivo das sementes, além de realizar o treinamento dos produtores locais.
Estudam, igualmente, a abreviação do tempo da colheita, a fim de expandir, com maior intensidade, a produtividade. O trabalho ainda não possui resultado significativo, uma vez que se trata, em verdade, de um estudo a longo prazo, com efeitos concretos em, mais ou menos, seis anos.
Para além, análise envolta à tecnologia de irrigação em conjunto com sementes seletas, visando a produtividade em épocas de entressafra, está a todo vapor, de maneira, em um futuro breve, espera-se que não exista mais crise de desabastecimento do fruto no mercado interno. Além destas, outras diversas iniciativas que buscam melhorar a qualidade do produto e aumentar a produção estão acontecendo exatamente agora.
As atividades, por certo, estimulam e atraem indústrias nacionais e internacionais, para a região Norte do país, especialmente para o Pará, maior produtor da fruta, de maneira a impulsionar sobremaneira o desenvolvimento econômico da região. Tudo isso a partir de um dos artigos mais tupiniquins de todos. É como diz o poema: “Lá está um fruto graúdo do meu pomar. Felicidade do meu Brasil!”.
Por isso, é essencial que os olhos dos produtores e exportadores do fruto estejam voltados não apenas para o lucro que a exportação acarreta, mas para a saúde da região e para proteção da floresta, que proporciona a existência do fruto e o desenvolvimento da economia, afinal de contas, “desmatar é matar-se pelas costas”.
Para mais informações sobre a exportação de frutos ou grãos, e demais matérias relacionadas ao agronegócio, acesse o Blog do Colunista Iuri Cavalcante Reis no site www.cavalcantereis.adv.br e deixe suas dúvidas nos comentários ou através do e-mail iuri@cavalcantereis.adv.br. Artigo escrito em coautoria com a advogada Thaynná de Oliveira Passos Correia, da equipe do Cavalcante Reis Advogados. (Instagram: @cavalcantereisadvs)